Resumo |
Verdadeiros celeiros da tradição africano-brasileira, os quilombos têm sua identidade preservada
pela perpetuação de seus costumes e de suas tradições, repassados, ao longo dos séculos, pelos mais
velhos aos mais novos. Por meio das histórias e de práticas milenares, repassam a memória de um
povo. O uso de plantas medicinais para a manutenção da saúde está entre alguns dos saberes
preservados. Explorando esse rico saber tradicional, este trabalho teve por objetivo investigar de
que forma as plantas medicinais, utilizadas pelos moradores da comunidade quilombola Furnas do
Dionísio (Jaraguari, MS), podem contribuir com uma apropriação significativa de conteúdos de
Botânica aos alunos do ensino médio da escola da comunidade. Foram propostas intervenções
pedagógicas baseadas no diálogo entre conhecimento tradicional e científico em sala de aula e na
comunidade, no sentido de estabelecer uma conexão entre seus saberes etnobotânicos e os
conteúdos de Biologia Vegetal. Inicialmente foram realizadas entrevistas e aplicados formulários
junto aos moradores da comunidade, permitindo diagnosticar suas práticas etnobotânicas. Assim,
norteado por método etnográfico, foram investigados esses saberes locais e, posteriormente, por
meio de pesquisa empírica de cunho qualitativo, foram transpostos para a sala de aula e
comparados aos conteúdos de Botânica dos livros didáticos utilizados na escola. Um teste com
questões de Botânica foi aplicado aos alunos para identificar ausência ou presença de subsunçores,
classificados em adequados ou parcialmente adequados. Esta análise foi utilizada para o
planejamento e confecção das estratégias instrucionais, visando facilitar a interação entre as novas
informações e as preexistentes na estrutura cognitiva do aluno, com o intuito de promover
aprendizagem. Baseando-se nos resultados dessas estratégias e em Mapas Conceituais
fundamentados na Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, construídos pelos
alunos sobre os conteúdos propostos, conclui-se que a aprendizagem foi satisfatória. Os resultados
indicam que os alunos compartilham um corpo significante de saberes e práticas próprios de suas
tradições culturais, que ora, diante da intensificação do processo de globalização, apresentam riscos
de desaparecimento e/ou descaracterização. Levando-se em conta a metodologia utilizada para
investigar os saberes locais sobre as plantas medicinais, conclui-se que essa contribuição foi
significativa para a aprendizagem de Botânica. A inclusão dos conhecimentos etnobotânicos nas
aulas de Biologia abriu possibilidades para o diálogo entre os saberes empíricos dos estudantes e os
conteúdos do Ensino de Botânica. |