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RESUMO
ANTONIO, M. C. R. A identificação dos sintomas depressivos na equipe de enfermagem do serviço de atendimento móvel de urgência de Mato Grosso do Sul. 104 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2014.
Há uma crescente discussão na comunidade científica sobre os transtornos mentais, em especial, acerca da depressão, devido ao fato dela estar relacionada como uma das principais causas de sobrecarga mental e incapacitação das atividades diárias na população em geral e em grupos específicos, sendo considerada como o mal do século e podendo atingir o topo das doenças mentais até 2020. Sabe-se que o trabalho e o ambiente no qual ele se desenvolve podem favorecer o aparecimento de doenças físicas e psíquicas. Os profissionais da área da saúde encontram-se mais vulneráveis à isso, principalmente quando exercem suas atividades em áreas e serviços específicos, como no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Assim, partindo do pressuposto de que as condições e o ambiente de trabalho influenciam significativamente na saúde do trabalhador e que a evolução dos transtornos mentais ocorre de forma gradativa, é imprescindível que os profissionais da equipe de enfermagem, que atuam no SAMU, devam ter sua saúde preservada, por meio de acompanhamento periódico de seu estado de saúde físico e mental. Com isso, o objetivo geral do estudo foi identificar a prevalência de sintomatologia sugestiva de depressão em profissionais de enfermagem de Serviços de Atendimento Móvel de Urgência de uma Região Central do Brasil. Os objetivos específicos foram relacionar as características sociodemográficas e profissionais com a sintomatologia de depressão e relacionar a prevalência de sintomatologia sugestiva de depressão com as alterações de saúde dos profissionais. Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e transversal, com abordagem quantitativa dos dados, realizado entre julho e outubro de 2013, nos SAMUs da Macrorregião do estado de Mato Grosso do Sul. A população foi composta por 41 profissionais de enfermagem em Campo Grande (13 enfermeiros, 27 técnicos e 1 auxiliar de enfermagem); 14 em Três Lagoas (sete enfermeiros e sete técnicos); 11 em Dourados (4 enfermeiros, 5 técnicos e 2 auxiliares) e 19 em Corumbá (8 enfermeiros, 10 técnicos e 1 auxiliar). Os critérios de inclusão foram ser profissionais do quadro efetivo do serviço e aceitar participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.Ressalta-se que não houve nenhuma recusa em participar da pesquisa. Os trabalhadores que estavam afastados, em período de férias e/ou licença no momento da coleta de dados, foram excluídos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sob o parecer nº. 282.196/2013. Para a coleta dos dados, aplicou-se o Inventário de Depressão de Beck, que identifica os sintomas sugestivos de depressão e um formulário adaptado para registrar as características sociodemográficas, profissionais e de saúde. A análise dos dados constou de: análise descritiva dos dados e dicotomização dos participantes em dois grupos (I: com sintomatologia de depressão e II: sem sintomatologia sugestiva de depressão). Utilizou-se os testes Qui-quadrado, Qui-quadrado de tendência e Teste Exato de Fisher, e foram calculadas as razões de prevalência, com os respectivos intervalos de confiança de 95%. Para as variáveis que influenciaram nos quadros de depressão, aplicou-se a Regressão de Cox. Dos 94 profissionais, 85 participaram do estudo, sendo que 48,2% estavam lotados no município de Campo Grande; 55,3% eram do sexo feminino e casados; 56,5% tinham idade menor ou igual a 35 anos; 51,8% ganhavam o equivalente a três salários ou menos; 67,0% moravam em imóvel próprio com a família; 57,7% eram técnicos de enfermagem; 49,4% trabalhavam na área a menos de dez anos; 74,1% trabalhavam no SAMU a menos de cinco anos; dos 37,6% de profissionais de nível superior (enfermeiros), 81,3% possuíam pós-graduação em nível de especialização; 56,5% não estavam estudando no momento da coleta de dados; 45,9% trabalhavam em período integral; 80,0% em período noturno; 72,9% possuíam somente um vínculo empregatício; 44,7% trabalhavam entre nove e dezesseis horas por dia; 78,8% dormiam de quatro a oito horas por noite e 94,1% possuíam veículo próprio para se locomover até o trabalho. A prevalência de sintomatologia sugestiva de depressão encontrada foi de 11,8%. Devido às características do trabalho em urgência e emergência é fundamental que o profissional tenha sua saúde física e mental preservada, através de acompanhamento periódico e de condições de trabalho, independente de sua atividade, em conformidade com a legislação de proteção ao trabalhador. Evidencia-se a necessidade de melhoria das condições de trabalho, de adoção de estratégias de enfrentamento e de medidas de prevenção, tendo em vista os sintomas assinalados no Inventário de Depressão de Beck com alto percentual para irritabilidade (65,9%), fadiga (64,7%), preocupação somática com o estado de saúde (43,5%), falta de satisfação (40,0%) e distúrbio do sono (62,3%). Relacionando as alterações de saúde com os sintomas sugestivos de depressão, houve associação significativa entre as variáveis, pois encontrou-se prevalência de sintomas sugestivos de depressão quatro vezes maior nos trabalhadores portadores de transtorno mental, em comparação aos não portadores deste tipo de doença. Conclui-se que, os profissionais que apresentaram escores para a sintomatologia sugestiva de depressão (11,8%) também mostraram alta porcentagem de sintomas depressivos assinalados no IDB e associação significativa com a prevalência de sintomatologia sugestiva de depressão e transtorno mental, além de outras doenças relacionadas. Sugere-se que é fundamental que ocorra a integração das políticas de Saúde Mental e Saúde do Trabalhador na perspectiva da compreensão de que o processo saúde-doença pode incidir no ambiente ocupacional.
Palavras-chave: Enfermagem Psiquiátrica. Equipe de Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Serviços Médicos de Emergência. Transtornos Mentais.
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